“Marconi’s brainwave (a onda cerebral de Marconi)”, e “A tecnologia sem fio está avançando através de saltos e limites – e há mais por vir”. Estes são o título e a mensagem, respectivamente, deste primeiro capítulo da pesquisa de The Economist sobre tecnologia sem fio.
Quando Guglielmo Marconi recebeu a patente pelo seu “telégrafo sem fio” em 1897, o futuro de sua invenção parecia modesto. Naquela época sinal de rádio podia viajar somente alguns quilômetros, e somente um receptor e um transmissor podiam operar em uma área qualquer. Desde 1900 a “eficiência espectral”- a quantidade de informação que pode trafegar na mesma porção de ondas de rádio- tem melhorado talvez um milhão de vezes, estima Martim Cooper da ArrayComm, que é considerado o pai do celular (ver quadro abaixo).
A invenção do transistor em 1947 e o microprocessador (que integra transistors e outras coisas num mesmo chip) em 1958 mudaram o modo como os rádios funcionam. O microprocessador ajudou a nos livrar dos cristais, bobinas de cobre, tubos à vácuo, colocando os ingredientes do rádio quase inteiramente em silício. Isto custa menos para fazer, toma menos espaço, consome menos energia, faz o rádio funcionar melhor e permite que ele opere com mais suavidade os outros eletrônicos no dispositivo.
A inovação acontece rapidamente. O poder de processamento dos chips dobra a cada dois anos, de acordo com a Lei de Moore, devida à Gordon Moore, fundador da Intel, a maior companhia produtora de chips do mundo. À medida que os bilhões de transistors nos chips ficam cada vez menores, há mais espaço para adicionar funções extra. Tais chips não somente ficam mais rápidos, eles também fazem mais, e o custo de integrar novas funções é relativamenter baixo.
Muitas das funções de tais chips são controladas por software, que significa que eles podem ser melhorados continuadamente a pouco custo. Além do mais, a tecnologia dos chips não somente melhorou a performance e o custo do rádio, mas também outras partes do sistema, de antenas mais “espertas” a gerenciamento avançado de energia para aumentar a longevidade das baterias. Como resultado, o custo das comunicações sem fio desceu “ladeira abaixo”.
A indústria do telefone móvel tanto se beneficiou destes desenvolvimentos quanto os estimulou. A indústria como um todo – incluindo os produtores dos dispositivos de mão (handsets), desenvolvedores de software, operadores de redes e por aí vai- está destinada a ter receitas em torno de 01 trilhão de dólares por ano, de acordo com Informa, uma empresa de pesquisa. O volume de tráfego está se elevando. Por 2011 talvez 04 bilhões de pessoas estão com um telefone móvel.
Conectar coisas, mais que pessoas, está menos avançado. Vendas de módulos sem fio para dispositivos, sensores, e máquinas, estão previstas de alcançarem meros US$ 33 milhões, apesar de se esperar que cresçam rapidamente, para em torno de US$ 400 milhões em 2011, de acordo com Harbor Research. Até lá as receitas para hardware e serviços, agora em US$ 48 milhões, devem crescem para US$ 200 milhões- ainda um choro distante da indústria de telefonia móvel.
As comunicações sem fio nestas áreas estão se desenvolvendo rapidamente, a um tempo em que a indústria de telefonia móvel está se aproximando do ponto de saturação nos países ricos, e a receita média por usuário está cedendo. E eles sustentam uma promessa: há muito mais coisas do que pessoas que podem ser sem fio, de portas a janelas, e de máquinas a árvores.
Tal como quando foi atingido um marco em 1998, quando o volume de tráfego global da Internet superou o tráfego de voz nos EUA, um ponto de inflexão virá quando dispositivos conectados à rede superem pessoas, tanto em número, banda-larga ou chamadas. Isto pode acontecer mais rápido que se espera.
Stratton Scalvos, o chefe da VeriSign, que opera parte do sistema de endereços da Internet, nota que em torno de 12% do tráfego de endereços envolve computadores conectando computadores, sem uma pessoa sequer nas pontas. John Roese, o tecnologista chefe da Nortel, uma empresa vendedora de equipamentos de telecomunicações espera que a quantidade de comunicação máquina-máquina irá para frente das chamadas humanas e dos clicks na web em algum momento entre 2009 e 2011, quando câmeras, carros, medidores de uitlidades públicas, sistemas de segurança caseiros e semelhantes irão continuadamente enviar dados através das redes. Vivek Ranadivé, o chefe de Tibco, uma empresa desenvolvedora de software para sistemas corporativos de tecnologias de informação, diz que o número de transações de computadores iniciadas automaticamente por outros computadores já é maior que o iniciado por pessoas.
Estranhamente, é o sucesso dos telefones móveis que está alimentando o crescimento das comunicações sem fio entre objetos mais que pessoas, promovendo inovação e trazendo os preços para baixo. Tome-se Texas Instruments, que lidera o mercado de chips para celulares no padrão GSM. Em 2003 ela começou a trabalhar com um chip único de baixo-custo para rádio para dar suporte a digital musical player, FM stereo, camera e clour display, com uma bateria de vida longa. Um protótipo foi construído em 2004 e a produção começou em 2006. No quarto trimeste do ano passado somente a empresa vendeu 10 milhões destes chips. Os chips caíram de preço de US$ 50 para US$ 5 por chip, e um telefone que custava uns US$ 250 há uns 5 anos hoje custa US$ 25. Mas, mais do que ficar barato, no futuro os chips irão oferecer mais características, diz Greg Delagi, que lidera a unidade de TI sem fio.
Engenheiros têm sido capazes de aplicar tais inovações e economias de escala a outras tecnologias sem fio. Como resultado, alguns chips de rádio- por exemplo, aqueles usados para o Global Positioning System-GPS, ou comunicações Bluetooth sem fio – agora custam pouco mais de US$ 1,0 e estão do tamanho de uma cabeça-de-fósforo. Chips com uma nova tecnologia chamada Zigbee, usada para sensores de curto alcance, que atualmente custam em torno de US$ 4 estão do tamanho de uma unha, estão esperados de diminuir mais ainda para 1/4 do preço e tamanho em 5 anos. Uma categoria mais simples de chips, chamada “radio-frequency identification (RFID) tag” – etiqueta de identificação de frequência de rádio- que envia uma pequena quantidade de dados sobre uma largura pequena quando ativada, já pode ser manufaturada por 4 centavos de dólar. Hitahci tem um protótipo de chip que se fixa numa ranhura de uma impressão digital. Ano passado 1 bilhão de RFID chips foram vendidos; este ano o número pode subir para 1,7 bilhões, de acordo com IDTechEx, uma empresa de consultoria.
Tudo isso significa que muitas coisas auto-contidas podem se tornar capazes de comunicar. Por exemplo, a maioria das grandes companhias de logística nos EUA e Europa agora rastreia suas frotas com uma combinação de redes de satélites e de celulares. Pequenos sensores móveis monitorando equipamentos em grandes fábricas podem prover avisos de eventuais paradas. Eles podem operar em energia liberada a partir do calor da vibração de seus maquinários.
Permita que os dispositivos falem dentro deles
O Ipod da Apple e os sapatos da Nike podem se interconectar de modo que o tocador de música possa selecionar sons que coincidam com os passos do atleta. Grandes organizações tais como varejistas, hospitais e as forças armadas estão usando etiquetas RFID para gerenciar níveis de estoque. Versões mais robustas da tecnologia estão sendo aplicadas em cartões de bancos, passaportes e passes de transporte público.
Isso é só o começo. E apesar de muitas das tecnologias iniciais terem sido desenvolvidas pela indústria de defesa dos EUA- que deu vida à Internet nos anos 70- a maioria das aplicações interessantes está emergindo no setor privado (novamente, como na Internet). Reguladores estão ajudando nisso. Tanto a Europa quanto os EUA estão considerando propostas de colocar equipamentos nos carros que irão chamar automaticamente os serviços de emergência no evento de um acidente. Alguns países agora estão requerendo das empresas de utilidade pública que leiam medidores mais regularmente para promoverem conservação de energia, dando um reforço nas comunicações on-line. Produtores de dispositivos médicos estão oferecendo mais produtos de monitoração dos lares. E operadores de celulares estão investindo grandes somas para fazerem o upgrade de suas redes para acesso de maior velocidade- e estão produrando por novas fontes de tráfego para elas.
Uma das mais importantes consequências destas novas tecnologias sem fio é um aumento na visibilidade e na prestação de contas, diz Jiro Kokuryo da Keio University, no Japão. Economistas hoje tratam muitos itens como custos indiretos porque não há um modo de atribuir o uso de um recurso para um indivíduo em particular. Comunicações sem fio podem mudar isso, ao fazerem possível basear estas coisas tal como pedágios em estradas e prêmios de seguros de automóveis no corrente padrão de direção das pessoas. Mas isso levanta também preocupações com privacidade numa escala que não era imaginada antes.
Irá o refrigerador falar com a chaleira? Provavelmente não. Mas isto é só um detalhe. A tecnologia sem fio é afim da malha de energia elétrica, a qual foi intencionada para um fim em particular, o bulbo de luz, mas que sua aplicação “killer” se tornou o soquete de força que permite uma multitude de novos e não previsto artefatos que derivam energia a partir dele. Em tempo, as novas tecnologias sem fio irão igualmente redimensionar a sociedade em formas não previstas.