Um modelo Schumpeteriano de crescimento econômico: a tecnologia no epicentro (1)

Nesses dias (e anos) de crescimento econômico medíocre no Brasil, uma única coisa passa na minha cabeça: como podemos retomar o vigor do crescimento sustentado que vigia no país antes de 1980 ?  Lembro-me muito bem daquela época quando ser engenheiro ainda era o sonho de todo jovem de classe média que aspirava uma inserção social sólida e um futuro promissor, já que o país era o “país do futuro”.  Mas eis que vieram os anos 80 (a então denominada “década perdida”), e depois a que se perdeu em 90, e agora, a primeira dos anos 2.000 (que pinta estar sendo também perdida) e nada de crescimento robusto !  Afinal, que diabos está acontecendo com este país ?

Estamos, neste humilde pedaço, tentando contribuir com um pouco de reflexão a este respeito.  Neste sentido, retornamos ao que os economistas (lá fora) estão escrevendo com bastante assiduidade, que são os modelos de crescimento econômico (por aqui só se fala em PAC’s e outras baboseiras, “PACdermes”, que apontam para lugar nenhum !).

Logo, vamos aos chamados novos modelos Schumpeterianos, em consideração e em um retorno ao eminente economista austríaco Joseph Schumpeter, que deixou um grande legado (ver aqui um pequeno resumo ) de contribuições à Economia no início do século XX do milênio passado, principalmente por ter caracterizado o capitalismo com a célebre expressão da “destruição criadora“, ou criação destrutiva, em que as velhas maneiras de fazer as coisas são endogenamente destruídas e trocadas pelas novas formas.  E exatamente por este seu entendimento acerca do crescimento econômico, que ele vem sendo recuperado pelos economistas próximos às teorias do crescimento econômico endógeno, tais como Peter Howitt, já referido neste blog.

NOVA TEORIA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO (1ª Geração) 

Antecedentes mais recentes dos modelos de crescimento econômico são o Modelo Robert Solow (1956) e Trevor Swan (1956), o chamado Modelo Neoclássico de Crescimento Econômico, iniciadores das modernas técnicas de modelagem, que apontam que o progresso tecnológico emana fora do contexto da economia (exógeno), e mais recentemente, as contribuições de Paul Romer (1986) e Robert Lucas (1988). Estes últimos incorporam os retornos crescentes de escala, e o progresso tecnológico pode ser pensado como uma outra forma de acumulação de capital a partir de empresas que desenvolvem P&D. Eles consideram que se a sociedade poupar uma porção maior da renda, o progresso tecnológico aumentará e isso permitirá uma maior taxa de crescimento econômico; enfim, endogeinizam o progresso tecnológico, e reaviva o interesse do crescimento econômico na política pública.  Estes modelos representam a 1ª Geração dos chamados modelos endógenos. 

NOVA TEORIA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO (2ª Geração) 

Alguns economistas vêm apontando aquilo que seria representativo de uma nova geração de modelos endógenos, assinalando o que seria um importante problema com a 1ª Geração de modelos: 

          Ao apresentar a mudança tecnológica como um processo benéfico uniforme que eleva o padrão  de vida de cada uma das pessoas, ignora um crítico aspecto social do crescimento: a mudança tecnológica é um jogo com perdedores e ganhadores. 

A contribuição do livro de Phillipe Aghion e Peter Howitt (1998): “Teoria Schumpeteriana de Crescimento Econômico” vai na seguinte direção: 

– Enfatiza a distinção entre conhecimento tecnológico e capital, e analisa o processo de inovação tecnológica como uma atividade separada da de poupança;

– Explicita quem ganha e quem perde com o progresso tecnológico, como os ganhos e perdas dependem de arranjos sociais, e como estes arranjos afetam o desejo e a habilidade da sociedade de criar e lidar com mudança tecnológica;

– Re-introduz a idéia de Joseph Schumpeter de destruição criativa, o processo onde cada inovação cria novo conhecimento tecnológico e avança nossas  possibilidades materiais, mas ao mesmo tempo torna obsoleto alguns dos conhecimentos tecnológicos que foram criados pelas inovações prévias. 

Um Modelo Simples da 2ª Geração pode ser observado no texto de Peter Howitt, intitulado “Growth and Development: a Schumpeterian Perspective”, de 2005, encontrado na página na Internet, e ele tem as seguintes características: – Um modelo de crescimento através de destruição criativa pode ser visto em termos de duas relações de longo-prazo entre a taxa de crescimento econômico (g) (i.e., a taxa de crescimento do PIB por trabalhador) e a quantidade de capital por unidade (eficiente) de trabalho (k).  Por um lado, há uma relação que mostra o quanto de capital por unidade de trabalho a economia vai terminar no longo-prazo, dada uma taxa de crescimento econômico.  Isto é mostrado pela curva SS inclinada para baixo na Figura 1 a seguir.   

Figura 1 
Schumpeteriano0
 

Esta curva toma como dada a propensão de poupar da economia.  Uma taxa alta de crescimento subentende uma taxa mais rápida de progresso tecnológico, e daí, um crescimento mais rápido da força de trabalho medida em unidades eficientes (conhecido como progresso tecnológico incorporador de trabalho).  Isto, por seu turno, vai implicar uma menor quantidade de capital por unidade de trabalho – um movimento voltado para trás e para cima à esquerda na curva SS, como mostrado na Figura 2 (movimento I).  Adicionalmente, um aumento na taxa de poupança moveria a curva para a direita, resultando num maior estoque de capital por unidade de trabalho para uma dada taxa de crescimento de longo-prazo (movimento II). 

Figura 2

modeloschumpeteriano-1.jpg 

Por outro lado, outra relação mostrada pela figura é a curva RR, denominada Curva de Arbitragem de Pesquisa, que reflete os incentivos para fazer P&D.  A suposição é a de que as empresas escolhem um nível de P&D que irá maximizar o valor presente esperado dos seus lucros.  Essa escolha vai depender das instituições, políticas e costumes, com respeito aos direitos de propriedade, proteção de patentes, política de defesa da concorrência, que afetam os custos de P&D e os lucros esperados pela inovação.  Estes fatores são assumidos constantes ao longo da curva RR.  O nível geral de P&D da economia determina o fluxo de inovações da economia, que, por seu turno, governa a taxa de progresso tecnológico, e, portanto, determina a taxa de crescimento econômico de longo-prazo.  Dado que as variáveis institucionais e políticas são mantidas constantes em RR, um aumento no estoque de capital por unidade de trabalho irá elevar o incentivo a desenvolver P&D através do efeito escala.  Isto é, mais capital por trabalhador irá resultar em mais produção por trabalhador, e daí, mais renda per capita, para um dado nível de tecnologia.  E quando as pessoas têm rendas maiores, elas podem gastar mais em produtos recentemente inventados, o que eleva o incentivo a desenvolver P&D, e resulta em uma taxa mais rápida de crescimento econômico – um movimento para cima ao longo da curva RR (movimento I na Figura 3).  Da mesma forma, qualquer mudanças em instituições, políticas, ou outras variáveis que afetem o incentivo a desenvolver P&D irá mover a curva RR para cima, ou para baixo (movimento II na Figura 3)

Figura 3

Schumpeteriano2

Finalmente, de acordo com esta teoria a taxa de crescimento de longo-prazo (g) será determinada pela intersecção das duas curvas SS e RR.  Logo, qualquer coisa que aumente o incentivo para desenvolver P&D, e daí mude a curva de arbitragem RR para cima (movimento I na Figura 4), ou qualquer coisa que eleve a propensão da economia a poupar, e, daí, muda a curva SS para a direita, (movimento II na Figura 4) resultará em um crescimento econômico de longo-prazo maior : (g2 > g1), que é o a condição desejada. 

Figura 4

Schumpeteriano3

Quais as implicações deste modelo em termos de política de defesa da concorrência (competição), de patentes, educação superior, globalização, revoluções tecnológicas e desigualdade salarial ?  Eis o que reservamos para o próximo post.

Uma resposta to “Um modelo Schumpeteriano de crescimento econômico: a tecnologia no epicentro (1)”

  1. André Says:

    Gostaria de saber qual a visão sobre a tecnologia para Schumpeter e os Neo-Schumpeterianos.

    Obrigado

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