O que é a Cloud Computing (Computação Nuvem)? (Cloud Computing: what does it mean?)

Um conceito que está ganhando muita evidência no meio das tecnologias de informação e comunicação é o de cloud computing (computação nuvem, ou na nuvem).  Mas o que isto significa e qual é o seu impacto nos negócios e no nosso cotidiano?

De forma bastante simples, o termo indica que no futuro nós não teremos, ou mesmo precisaremos, que nossos dados ou programas de software estejam em nossos próprios computadores. Ou seja, eles (os dados e os programas) ficarão dispostos em algum lugar ou em algum servidor de alguém (empresa ou organização) acessável via a Internet. Sendo assim, esta vasta “névoa”  de dados e servidores interconectados das pessoas é então chamada de “nuvem”.

Até aí tudo bem! A questão que vem sendo discutida mais recentemente é se esta vasta nuvem pode ser controlada ou não por alguma entidade, ou empresa, e isso ameaçar nosso controle sobre nossos dados e programas.

Dois grandes nomes de influência no mundo web entraram numa interessante discussão acerca desta questão: Tim O´Reilly (empresário inovador e dono de um importante blog, http://radar.oreilly.com) e Nicholas Carr, escritor que ganhou popularidade com seu livro “IT does matter?”, e que tem um blog muito popular ).

Tudo começou com um post que Tim O´Reilly escreveu em 26/10/2008, intitulado “Web 2.0 and Cloud Computing” (Web 2.0 e a Computação Nuvem).  Neste post ele se referia a um outro post, de Hugh Macleod, que havia criado certa polêmica com seu post The Cloud’s Best Kept Secret (O mais bem guardado segredo da nuvem). O argumento de Hugh era o seguinte: a cloud computing iria levar a um grande monopólio.

E O´Reilly estende um pouco mais este argumento de Macleod apontando o que este último afirmara:

“…ninguém parece estar falando sobre as Leis do Poder (melhor esclarecendo, a frequência distribuição de um conjunto de dados quaisquer, onde, por exemplo, um pequeno número de empresas pode capturar a maior parte de um negócio; grifos nossos).  Ninguém está dizendo que um dia uma única empresa pode possivelmente emergir para dominiar a Nuvem, da maneira como Google dominou o mercado de Busca, da maneira como a Microsoft veio a dominar o mercado de Software. Deixando questões de Monopólio de lado, você poderia imaginar esta empresa? Nós não estaríamos falando de um negócio multi-bilionário como é o de hohe da Microsoft ou Google. Nós estamos fando de algo que pode simplesmente superá-los. Nós estamos falando potencialmente de uma empresa multi-trilionária. Possivelmente a maior empresa que já existiu.”

 A partir daí O´Reilly passa a afirmar que o problema com esta análise é que ela não leva em consideração o que causa as leis do poder na atividade online.  Entender a dinâmica dos retornos crescentes na web é a essência do que O´Reilly denominou de Web 2.0 (para quem ainda não sabe, foi o O´Reilly que cunhou este termo).  Segundo ele, em última instância, na rede, as aplicações vencem se elas pegam melhor mais pessoas para usá-las.  Como ele havia apontado em 2005, Google, Amazon, Ebay, Craigslist, Wikipedia, e todas outras aplicações estrelas da Web 2.0 têm isto em comum.

Para O´Reilly a Cloud computing, pelo menos no senso que Macleod parece estar usando o termo, como um sinônimo do nível de infraestrutura da nuvem como melhor exemplificado por Amazon S3 e EC2, não tem esta categoria de dinâmica. 

Segundo O´Reilly é verdade que os bigger players (maiores jogadores) terão economias de escala no custo do equipamento, e especialmente o custo de energia, que não estão disponíveis para os smaller players (menores jogadores). Mas há poucos big players — Google, Microsoft, Amazon — para citar alguns, que estão nesta escala, com ou sem o jogo da cloud computing. Além disto, economias de escala não são o mesmo que retornos crescentes para os efeitos de redes pros usuários. Eles podem ser característicos de um mercado de comoditização que não necessariamente dá alavancagem econômica desproporcional aos vencedores.

Deste ponto em diante, O´Reilly passa a definir três tipos de cloud computing, a saber, Utility Computing (Computação de “Utilidade Pública”, no senso aportuguesado), Platform as a Service (Plataforma como um Serviço), e Cloud-based end-user applications (Aplicações de usuários finais baseadas na nuvem).

Tudo ia bem, até que no dia 26/10/2008 Nicholas Carr escreveu no seu blog o post intitulado
What Tim O’Reilly gets wrong about the cloud (O que Tim O´Reilly assumiu erradamente sobre a nuvem).  Segundo Carr, O´Reilly aponta importantes questões, mas sua análise é também “capenga”, defeituosa, e os defeitos do seu argumento são tão reveladores quanto sua força.

E qual é a crítica de Carr?  Ele começa pegando o exemplo do Google, que O´Reilly lista como o primeiro exemplo de um negócio que cresceu ao ponto de dominância graças ao efeito de rede.  E Carr se pergunta: “É o efeito de rede realmente o principal engenho alimentando a dominância do Google no mercado de busca?” Carr então argumenta que não é.  Aliás, sua crítica a O´Reilly, em essência, é que esta não é a única razão para o sucesso de empresas como Google.

No dia 27/10/2008, O´Reilly responde à crítica de Carr em um post intitulado “Network Effects in Data“.  Nele O´Reilly aponta o seguinte.  A dificuldade de Nick Carr entender seu argumento de que a cloud computing é provável de acabar com negócios de margens estreitas (de lucro), a não ser que empresas encontrem um modo de aumentar os efeitos de rede que estão no coração da Web 2.0, o fez entender que ele usou o termo “network effects” (efeitos de rede) de alguma forma diferentemente, e não na forma simplistica que muitos o entendem.

No mesmo dia 27/10/2008 Carr reafirma sua crítica a O´Reilly no post “Further musings on the network effect and the cloud (Mais reflexões sobre efeitos de rede e a nuvem).  E, como afirma Carr, já que O´Reilly continua a rejeitar seu argumento de que o sucesso de Google não pode ser explicado pelo efeito de rede, ele utiliza do Prof. Hal Varian, como sendo um dos maiores explicadores do efeito de rede e suas implicações, além do fato dele hoje ser um dos top estrategistas do Google.  E, evocando uma entrevista que o próprio Carr fez com Varian, ele reproduz o seguinte argumento do Varian no começo deste ano:

P: Como nós podemos explicar a posição entrincheirada do Google, mesmo que as diferenças e algorítmos de busca estejam somente agora sendo reconhecidas nas margens? Há mais efeitos de rede escondidos que o tornam melhor para todos nós usarmos o mesmo engenho de busca?

R: As forças tradicionais que dão suporte ao entrincheiramento de mercado, tais como efeito de rede, economias de escala, custos de mudança, não se aplicam ao Google. Para explicar o sucesso do Google você tem que ir atrás de um muito mais velho conceito de economia: aprender fazendo. Google tem feito busca na web por quase 10 anos, logo não é surpresa que nós nos darmos melhor que nossos competidores. E nós estamos trabalhando muito para manter isto desta maneira!

 É: pelo visto uma boa discussão!  Vamos ver onde ela termina (ou se já terminou)!

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